Transição energética e Bioinovação: a importância do ESG nas estratégias de alinhamento das cadeias produtivas

Por Bruno Henrique Maier¹ e Yuki Hamilton Onda Kabe²

Imagine que, em um passe de mágica, toda a energia consumida no mundo passe a ser produzida por fontes renováveis. Muitos imaginam que este mundo seria carbono neutro, mas, na verdade, a produção de cimento, aço, papel, plásticos e outros materiais que precisamos continuaria a ser uma importante fonte de gases de efeito estufa.

E se além de energia renovável a economia fosse circular também, reduzindo o consumo, reutilizando produtos e reciclando materiais? Infelizmente, nenhum sistema consegue ser 100% eficiente, e essas perdas precisariam ser repostas. Além disso, há uma previsão de aumento de demanda da maioria dos materiais, porque precisamos incluir na economia uma multidão de excluídos que vivem à margem da sociedade, e isso causará um aumento do consumo.

Apenas como exemplo, estima-se que a produção de plásticos, que hoje é em torno de 340 milhões de toneladas por ano, cresça até mais de 1 bilhão de toneladas até 2050. Se considerarmos que a eficiência máxima dos processos de reciclagem deste material gira em torno de 70%, mesmo que consigamos reciclar 70% da demanda, ainda assim precisaríamos produzir anualmente mais de 300 milhões de toneladas de plástico, que é o tamanho desta indústria hoje.

Desacoplar a indústria de plásticos de fontes fósseis implica em encontrar novas fontes para os átomos de carbono que são utilizados como espinha dorsal destes polímeros. A fonte principal de átomos de carbono é a vida. Mesmo nos recursos fósseis, as cadeias de carbono foram criadas por organismos vivos e então soterradas por bilhões de anos, dando origem aos hidrocarbonetos.

Entretanto, usar fontes renováveis de carbono para materiais não significa automaticamente que estes serão mais sustentáveis do que os materiais produzidos a partir de fontes tradicionais. É preciso garantir que a biomassa seja obtida de forma sustentável e garantir que não estamos tapando um buraco cavando outro. É neste ponto que entram as práticas de ESG (governança ambiental, social e corporativa, em livre tradução) e a cooperação dentro das cadeias de valor, já que a sustentabilidade da solução depende da sustentabilidade de cada elo da cadeia.

A solução para a crise ambiental que nossa sociedade vive passa pela inovação, e com a crescente dependência da biomassa, a Bioinovação exerce um papel central. Afinal, é por meio dela que encontraremos as respostas para desenvolver as fontes alternativas de carbono, bem como realizar a transição energética renovável.

O Brasil tem um enorme potencial para ser uma referência mundial nesse novo mundo, com abundância de solo agriculturável, biodiversidade, clima tropical e água abundante.

Este é o novo zeitgeist, ou espírito de época: Bioinovação, ESG e visão sistêmica. Não basta olhar apenas para biomateriais ou bioenergia. Uma miríade de setores produtivos e negócios devem estar incluídos nas políticas nacionais e globais de incentivo à Bioinovação.

¹Bruno Henrique Maier é coordenador de sustentabilidade da Raízen.

²Yuki Hamilton Onda Kabe é especialista em Avaliação de Ciclo de Vida da Braskem.