Por Jonas Hipólito, diretor de Estratégia e Inovação da BIOTROP
Há quem pense que os bioinsumos são uma novidade na agricultura, mas, na verdade, eles estão presentes em diversos setores há muitos anos. A utilização de materiais biológicos — sejam eles botânicos, macro ou microrganismos — para melhorar a fertilidade do solo e controlar pragas e doenças nas lavouras tem sido praticada há séculos por agricultores e agricultoras ao redor do mundo.
Mas, é o conceito de bioinovação que possibilita a ampliação das fronteiras quando falamos em insumos biológicos, especialmente se considerarmos os impactos do crescimento populacional sobre a demanda pela produção de fibras, energia e alimentos, a necessidade do desenvolvimento de processos produtivos mais resilientes e mesmo o cenário geopolítico mundial instável.
Os avanços científicos inovadores e as práticas sustentáveis aliadas à promoção de bioinsumos têm um enorme potencial no Brasil. Reconhecido por suas vantagens competitivas, nosso país possui uma grande vocação agrícola, além de uma legislação consideravelmente avançada que viabiliza a articulação de soluções disruptivas para o agronegócio. Há que se destacar também a formação de profissionais nas áreas de Ciências Agrárias, a qual tanto contribui para o avanço de investigações em tecnologias relacionadas ao setor.
Esse terreno fértil para os bioinsumos é essencial por um motivo prático: um dos grandes desafios enfrentados pela agricultura em condições tropicais é a eficiência reduzida dos fertilizantes. Em muitos casos, ocorrem perdas significativas, sobretudo quando se trata de nitrogênio, nutriente essencial para o crescimento das plantas. O elemento frequentemente se perde para a atmosfera na forma de gases impactantes, resultando em emissões prejudiciais ao meio ambiente. Além disso, a origem do nitrogênio mineral, demanda um alto consumo energético.
Nesse contexto, os bioinsumos desempenham um papel crucial na fixação biológica do nitrogênio. Existem vários microrganismos que naturalmente realizam esse processo, associando-se às plantas e capturando o nitrogênio do ar, que é então disponibilizado para as plantas.
Os benefícios são diretos nesta espiral positiva: os agricultores passam a produzir mais com menos recursos e a rentabilidade é ampliada, ao passo que a emissão de carbono diminui, contribuindo para a preservação dos solos e recursos hídricos.
Se olharmos o aspecto econômico, o Produto Interno Bruto brasileiro também é fortemente impactado por tal ecossistema, uma vez que a produção de bioinsumos demanda recursos para inovação, movimentando novos paradigmas de cadeias produtivas que vão desde maquinários e embalagens até a indústria de química fina. Por extensão, geram-se milhares de empregos diretos e indiretos sob uma indústria exportadora capaz de substituir os produtos químicos.
Como parte da BIOTROP, observamos que as empresas têm investido cada vez mais no desenvolvimento e na promoção dessas soluções, visando maximizar a eficiência e reduzir as emissões geradas pela atividade agrícola. Por isso, é seguro afirmar que focamos na intersecção entre inovação, pesquisa aplicada e sistema regulatório no intuito de endereçar-nos da forma mais assertiva possível às necessidades de nossos clientes.
Apesar do referido potencial, a expansão dos bioinsumos ainda lida com desafios. É preciso superar barreiras, como a questão tributária, a insegurança jurídica e a necessidade de harmonização dentro do Brasil, bem como com outros países. Tal perspectiva vale para o desenvolvimento de um ambiente propício ao desenvolvimento dos bioinsumos, com políticas de Estado que incentivem a inovação e a proposição de regulamentos específicos à temática.
Fato é que, por meio da bioinovação, podemos explorar todo o potencial desses produtos e abrir caminho para um futuro em que a agricultura seja capaz de atender às demandas crescentes por alimentos, sem comprometer o meio ambiente. Investir em bioinsumos é trabalhar por um modelo agrícola mais inteligente, resiliente e em sintonia com os desafios do século XXI.