Biogás e Biometano são o futuro da diversificação energética do país

Assim como em outros segmentos, o investimento em bioinovação é uma das respostas para as crises econômicas e ambientais que estão em curso no presente. As mudanças climáticas e as alterações do cenário geopolítico mundial são temas que colocam em evidência a urgência do acesso às fontes energéticas alternativas.

Como exemplo disso, podemos citar o problema interno enfrentado pelo país com o apagão no Amapá em 2020; ou até mesmo a crise hídrica e seca prolongada ocorrida no Paraná em 2021, que foi responsável pela elevação de custos na indústria e impactos no consumo doméstico. Em âmbito internacional, a guerra na Ucrânia e a consequente alta do petróleo também serve como mote para que países busquem expandir fontes de energia mais limpas e tenham mais autonomia.

Nesse contexto, o Biogás e o Biometano representam uma alternativa importante, em especial no Brasil que, segundo o Ministério do Meio Ambiente, tem capacidade estimada de aproveitar 120 milhões de m³ por dia, que consiste em um volume maior que a produção diária do pré-sal, representando quatro vezes a capacidade do gasoduto Brasil-Bolívia. Considerando o potencial das novas fontes de energia, os investimentos em infraestrutura e inovação, bem como os desenhos de mercado devem responder à altura desse desafio.

Como a independência produtiva em relação aos recursos energéticos é amplamente desejada pelos países ao redor do mundo, as causas conjunturais e os fatores convergidos em crise global lançam, mais uma vez, um olhar atencioso para as terras brasileiras, que superam o projeto de descarbonização com largas vantagens — garantidas pela pluralidade de seus recursos naturais disponíveis.

Nesse aspecto, o Programa Nacional de Redução de Metano de Resíduos Orgânicos – Metano Zero, recentemente desenvolvido pelo Ministério do Meio-Ambiente (MMA), ao estar em sinergia com o compromisso de reduzir mais de 30% da emissão de metano assumido pelo Brasil na COP 26, junto de mais 97 países, visa reduzir a dependência de combustíveis fósseis e explorar o potencial pujante do Brasil no quesito energético.

Como a iniciativa do Metano Zero é inédita em território nacional e no mundo, as expectativas são positivas, sobretudo no que diz respeito à criação de alternativas energéticas e à redução da dependência de exportação dos principais combustíveis, em especial o diesel, atualmente muito utilizado na produção agrícola. De acordo com o Ministro Joaquim Leite, o Brasil é o primeiro país a agir efetivamente nas ações de redução de metano em 36%.

Ainda, o Programa Metano Zero é aderente ao crédito de metano, moeda verde e ativo ambiental que fará parte do mercado global de carbono, desenhando uma regulamentação específica para o segmento de Biogás e Biometano, bem como viabilizando o acesso ao mercado internacional. “O foco da nossa proposta é que o mercado nacional traga benefícios e gere receitas extraordinárias, trazendo soluções para os custos de energia e transformando passivos em ativos”, complementa o Ministro Joaquim Leite.

No ranking mundial de energia renovável, o Brasil é líder na América Latina e ocupa o 11º lugar dentre os 40 países da lista, de acordo com a organização global, Agência EY. O estudo mede o Índice de Atratividade de Países em Energia Renovável, avaliando quais são os 40 principais mercados do mundo mais vantajosos para investir em energia renovável. Este número expressa o potencial do país em atender as demandas de suas cadeias produtoras.

Empresas robustas e preparadas para proporcionar segurança energética nacional

A bioenergia representa uma grande oportunidade para o Brasil. Tendo nos recursos renováveis a fonte para a sua geração, estamos diante de um futuro promissor. A Gerente Executiva da Associação Brasileira do Biogás – ABiogás, Tamar Roitman, comenta que o Brasil tem vocação para aproveitar os recursos naturais de bioinsumo, bioenergia, bioprodutos e muitos outros ativos.

Aliado a isso, assistimos atualmente a uma sólida união entre os setores públicos e privados, interessados em transformar o setor energético verde e com baixa intensidade em carbono, mantendo o rigor da proteção ambiental e os compromissos firmados com o Brasil.

Nesse aspecto, a bioinovação e os produtos gerados por ela, se aproveitados de forma ética e responsável, serão capazes de posicionar o país dentro das competências que ele sustenta, em virtude de sua biodiversidade e riqueza natural.

A exemplo disso, temos o bioquerosene de aviação, que é produzido a partir de óleos vegetais, resíduos urbanos e biomassas. Ao lado desse combustível sustentável, dispomos também de outros importantes recursos, que não competem com a cadeia consumerista do setor de alimentos, mas oferecem um potencial encontrado somente no Brasil, conforme explica Tamar Roitman.

A Gerente Executiva da ABiogás segue argumentando, ainda, que o país tem potencial para gerar produtos sustentáveis sem ocupar grandes espaços de terra e do solo. “A nossa indústria está consolidada, tem empresas robustas, capazes de colocar recursos, gerar crescimento verde, emprego e renda”, comenta.

Quanto ao cenário do Biogás, a sua capacidade produtiva em condições favoráveis é dez vezes maior. Isso amplia a possibilidade de segurança energética do Brasil. “Se não aproveitarmos as oportunidades agora, iremos perder no futuro. Nós só precisamos de políticas públicas para fazer acontecer”, complementa.

Sustentabilidade efetiva e opção energética proporcionadas pelo Biogás

O Biogás já é uma realidade no Brasil, embora ainda haja potencial para um aproveitamento maior. Para que este mercado funcione de maneira organizada, é necessário seguir investindo em conhecimento e estudos que ofereçam uma visão clara sobre a disponibilidade de uso dos recursos naturais do país. Conciliar os interesses do desenvolvimento econômico e da proteção ambiental também devem ser prioridades.

Em concordância com esse ponto de vista, o Presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Evandro Gussi, explica que é preciso superar a ideia de que energia renovável depende necessariamente da exclusão de outros tipos de geração de energia. “A produção ambiental e equilibrada traz ganhos para o país e tira a política do ‘ou’ para colocar a política do ‘e’. Com isso, quero dizer que é importante ter opção energética, com várias fontes, desde que se faça um aproveitamento adequado disso. A tecnologia contribui para aumentar nossas opções”, resume Gussi.

Evandro Gussi comenta ainda que o Brasil ocupa uma posição importante na América Latina e no mundo no que se refere à pluralidade energética. Todavia, dispor de recursos energéticos em geografias concentradas não é o ideal para um futuro verde.

Todos os países devem estar em consonância. Por isso, é necessário levar condições produtivas até outros espaços da geografia global. Desse modo, o Presidente Executivo da Associação da Indústria de Cogeração de Energia – COGEN, Newton Duarte Gomes, afirma que a transição energética já é uma realidade concreta no Brasil e que a indústria do Biogás dará “uma contribuição espetacular” em nosso cenário de geração energética.

No ano de 2020, um grande marco nesse sentido foi a inauguração feita pela Raízen, da primeira planta do mundo capaz de converter torta de filtro e vinhaça em Biogás e gerar energia elétrica em escala comercial.

Por outro lado, nas esferas política e internacional, nós tivemos a implementação do RenovaBio;  e também a regulamentação do artigo 6 do Acordo de Paris na COP 26, que permitirá a negociação internacional dos resultados de mitigação excedentes, que nada mais são do que créditos de carbono. “O incentivo do Biogás e do Biometano a nível nacional demonstra que o momento não poderia ser mais oportuno. Eu tenho certeza de que teremos muitas oportunidades para alavancar esse setor de agora em diante”, conclui o Presidente Executivo da ABBI, Thiago Falda.