Entrevista exclusiva com o subsecretário de Economia Verde do Ministério da Economia, Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho

Ao adaptar sua política climática ao Acordo de Paris, o Brasil enfrenta uma série de desafios que englobam a transição para uma economia de baixo carbono. Por sua vez, o setor florestal possui um papel central rumo ao futuro sustentável viabilizado por soluções verdes e inovadoras.

Pensando nisso, convidamos o subsecretário de Economia Verde do Ministério da Economia, Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho, para um bate-papo exclusivo sobre bioinovação e setor florestal. Na entrevista, ele avalia que desafios e oportunidades da bioeconomia no setor, bem como os seus impactos na indústria e na vida da população brasileira.

ABBI: Do ponto de vista do Poder Executivo, quais os desafios e oportunidades para a aplicação da bioinovação no setor florestal na busca por uma transição para a economia de baixo carbono?

CARLOS HENRIQUE: Em primeiro lugar, vale afirmar que o setor florestal é estratégico para uma nova economia de baixo carbono, na qual o desenvolvimento sustentável é a principal atividade dentro dos processos produtivos. Basta vermos o inventário de emissão de carbono no Brasil, no qual quase 40% das emissões correntes estão ligadas a desmatamentos e queimadas. Logo, se quisermos atender efetivamente aos nossos compromissos assumidos — 50% de redução das emissões em 2030 e neutralidade em 2050 —, é importante priorizar as políticas voltadas para o setor florestal. Pensando na questão econômica que permeia as emissões florestais de carbono, o desmatamento e as queimadas, o Governo Federal criou recentemente a Subsecretaria de Economia Verde dentro do Ministério de Economia, complementando os direcionamentos já estabelecidos pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Nesse sentido, buscamos desenvolver instrumentos financeiros para valorar a floresta em pé, já que ela deve valer mais que os processos produtivos ligados ao desmatamento ou às queimadas. Outro caminho é a implementação de serviços ambientais que remunerem as pessoas que de fato preservam e conservam as florestas. Também devemos focar a bioeconomia, no intuito de criarmos um ambiente de negócios propício para investigar cientificamente as riquezas em nossas florestas e explorá-las de forma sustentável a ponto de ser inseridas no mercado.

ABBI: É possível avaliar de que modo a bioinovação no setor florestal pode auxiliar o crescimento do setor industrial brasileiro?

CARLOS HENRIQUE: Sem dúvidas, a indústria do futuro deve estar conectada com a bioeconomia, principalmente considerando as vantagens comparativas que o Brasil possui em relação a outros países: temos a maior floresta do mundo e vários biomas em que a biotecnologia pode ser desenvolvida. Por outro lado, para que a indústria se beneficie da bioinovação, é importante criarmos condições pelas quais os produtos sejam bem colocados no mercado e, consequentemente, gerem valores, exportações, renda, empregos e desenvolvimento sustentável. O Ministério da Economia deu um passo que contemplou a mudança da personalidade jurídica do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), de modo que ele possa atuar também nas parcerias com o setor industrial e no mercado. Com isso, nossa expectativa é que se realizem políticas e pesquisas aplicadas em parceria com a indústria nacional para que tenhamos resultados a curto e médio prazos na área de bioeconomia. Focando na melhoria de ambiente de negócios, também temos algumas cooperações ligadas ao órgão da ONU para desenvolvimento de biotecnologia e capacitação das comunidades locais, as quais possuem conhecimentos de produtos florestais que são viáveis do ponto de vista mercadológico internacional.

ABBI: Na sua opinião, de que forma a modernização da legislação pode impactar a bioinovação no setor florestal?

CARLOS HENRIQUE: Grande parte dos biomas florestais são públicos. Dessa forma, há processos licitatórios para gestão das florestas públicas e unidades de conservação. Contudo, os mecanismos de concessão privada não permitem o pleno desenvolvimento de atividades voltadas ao desenvolvimento sustentável, sobretudo a bioeconomia. Por isso, o Ministério segue estudando para avançar na legislação e no marco regulatório que permitam projetos de biotecnologia e de geração de créditos de carbono na gestão de florestas públicas. Estamos integrando as políticas públicas e modernizando o conjunto de instrumentos infralegais para que o setor privado seja estimulado a investir em pesquisa e desenvolver produtos ligados à bioeconomia.

ABBI: Como a bioeconomia pode impactar a vida da população brasileira, em especial nas regiões e estados de grande potencial verde?

CARLOS HENRIQUE: Muitas pessoas que vivem em regiões florestais exploram produtos locais, mas esses ainda são pouco desenvolvidos para alcançarem outros mercados. Logo, torna-se fundamental o aumento de possibilidades das populações originárias para gerarem valor, ampliarem o alcance dos produtos e aumentarem renda e emprego sem que haja qualquer impacto ambiental nas regiões florestais. A exploração do açaí na Amazônia e no Pará é um exemplo bem-sucedido de ampliação de produtividade e venda tanto no Brasil como no exterior. Quem se beneficia são as pessoas que estão ligadas à atividade de produção e colheita. Trata-se de uma oportunidade de fortalecer nosso país a partir de uma visão sustentável, já que a economia de baixo carbono é o futuro.