Bioinovação no setor florestal: oportunidades e desafios

Quando o assunto é setor florestal, o Brasil desponta como um dos protagonistas devido à grande competividade no mercado externo e interno. A partir de uma cadeia diversificada, os produtos florestais tiveram forte impacto na economia com o faturamento de R$97,4 bilhões em 2019, segundo a Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ). Ainda para a entidade, os investimentos em projetos da área devem chegar a R$53,5 bilhões até 2024.

Neste cenário, as florestas brasileiras plantadas possuem um importante papel na rota da bioeconomia, uma vez que, como qualquer cultura, elas geram resíduos que podem ser aproveitados para outros produtos. Para Thiago Falda, presidente da ABBI, “trata-se de um setor que também pode ser orientado pelo conhecimento científico avançado e por inovações tecnológicas na aplicação de recursos biológicos e renováveis em processos industriais para uma atividade economia circular”.

Essa já é uma realidade para a Suzano, líder mundial na fabricação de celulose de eucalipto e uma das maiores fabricantes de papéis da América Latina. Como alternativa aos insumos de origem fóssil em aplicações industriais de alta performance, a organização possui frentes de inovação e produção de bioprodutos a partir da lignina, biomassa que serve de material para players do segmento de pneus e de cosméticos, por exemplo.

Outro case está na celulose microfibrilada, que serve de componente para fibras têxteis sustentáveis utilizadas por marcas de moda mundialmente conhecidas. Em parceria com a Spinnovastartup finlandesa do setor têxtil —, o material produzido pela Suzano utiliza menor quantidade de água e de químicos aplicados. Junto com o grafeno, as fibras de celulose em partículas nano também são aplicadas na produção de uma tinta inteligente que emite sinais sobre a deformação de gasodutos.

Nesse sentido, César Bonine, gerente de Propriedade Intelectual e Inovação da Suzano, observa uma mudança no mercado: “A partir da evolução da ciência, mudamos de um cenário no qual explorávamos apenas celulose e madeira da árvore para buscar outros componentes utilizados como soluções para as diversas indústrias. Observamos o desenvolvimento de uma economia regenerativa e de baixo carbono a partir do valor agregado aos produtos”.

Para Leonardo Mercante, gerente de Relações Corporativos da Suzano, as soluções de Bioinovação devem abarcar toda a indústria: “Além da promoção da economia de baixo carbono com nossos produtos, buscamos propiciar elementos para que o país possa abrigar outras indústrias do tipo, uma vez que a energia definirá a economia verde nos próximos anos. Dessa forma, a matriz limpa brasileira depende da biomassa, do bio-óleo e dos outros produtos que podemos oferecer como insumos”.

Bioinovação no setor florestal é marcada por desafios

Apesar do valor integrado e do impacto econômico que a Bioinovação traz ao setor, os executivos avaliam que ainda há uma série de desafios tecnológicos. “Diante do estado da arte, podemos constatar que não temos planta piloto para algumas aplicações, uma vez que a ciência e tecnologia de inovação possuem baixo investimento no Brasil. Por esse motivo, temos que enviar nossas amostras para a Europa, convertê-las em produto e aplicá-las em nossos clientes”, aponta César Bonine. Ele menciona também a necessidade de convencimento de players sobre os resultados positivos em substituir componentes de uso único por biomassa. Assim, os agentes devem ter uma mentalidade de governança ambiental. 

De acordo com Thiago Falda, outro ponto de desenvolvimento está na necessidade de compartilhamento de riscos entre as organizações e o Poder Público para a estruturação de uma escala que suporte toda a cadeia produtiva das biorefinarias, já que o comportamento de cada biomassa leva características especificas. Assim, o fomento do Estado à pesquisa e desenvolvimento é de grande importância para o setor.

Na mesma linha de pensamento, Leonardo Mercante ressalta: “É importante que tenhamos políticas públicas que trabalhem na lógica da encomenda tecnológica. A partir de marcos regulatórios, o Estado precisa investir em pesquisa para a produção de tecnologias pré-competitivas no intuito de adicionar valor e conhecimento às soluções”.

Além do âmbito de desenvolvimento, os porta-vozes concordam que o produto inovador deve chegar aos consumidores finais com um apoio tributário diferenciado, na medida em que a manutenção de preços oferece à população uma escolha igualitária por itens biodegradáveis. “Já conseguimos aplicar valor agregado ao produto, e a estrutura tributária de compra potencializa a sua competitividade no mercado”, afirma César Bonine.

A despeito dos desafios vigentes na indústria florestal, o Brasil se diferencia no setor pelo seu clima favorável e solo fértil. Mesmo não liderando o movimento, a biotecnologia brasileira é um fast follower. “Nosso país ainda possui gaps de desenvolvimento, mas podemos citar cases que geraram transformação, como a escala de clonagem de eucalipto, transgênicos de árvores e nutrição de florestas.”, continua Bonine. 

Em síntese, o país tem grande potencial de entrar para a vanguarda da Bioeconomia avançada, ao mesmo tempo que integra sua riqueza natural à conservação das florestas. Somente com a inovabilidade — intersecção entre inovação e sustentabilidade — horizontes do Estado, das organizações e dos clientes será possível o alinhamento de cadeias produtivas regenerativas focadas em inovações disruptivas e no bem-estar econômico, social e ambiental.