Bioeconomia e o setor florestal

Por Fernando Bertolucci¹, com colaboração de César Bonine²

O setor florestal faz parte do desenvolvimento econômico do Brasil desde o período colonial. É fato que, ao longo de cinco séculos, a atividade ganhou novas práticas e muito mais sustentáveis. A legislação ambiental se aprimorou e se intensificou. E tudo isso tornou o setor uma potência econômica, além de um importante contribuinte para a mitigação das mudanças climáticas que acompanhamos hoje em dia. Mesmo tendo um lugar de destaque global que posiciona, por exemplo, o País como o maior produtor e exportador de celulose de eucalipto do mundo, o setor ainda é pouco conhecido e reconhecido. Com os holofotes voltados para o crescimento da Bioeconomia, isso tende a mudar – o que é bom para toda a sociedade.

Além da geração de recursos a partir de materiais biológicos, a economia sustentável envolve as cadeias de valores orientadas pelo conhecimento científico avançado e pelas inovações tecnológicas nas aplicações em processos industriais, com o objetivo de gerar atividade econômica circular e benefícios sociais coletivos. Em outras palavras, a Bioeconomia reaproveita cada uso dos recursos biológicos para produzir novos subprodutos e atrelar maior dimensão de valor às cadeias de produção.

Sob a perspectiva da Suzano, baseamos nossa estratégia de transição para uma economia de baixo carbono na inovabilidade — ou seja, a intersecção entre inovação e sustentabilidade. Nesse sentido, desenvolvemos soluções integradas para transformar os processos e renovar a vida a partir das árvores, plantando matéria-prima de fonte renovável para um futuro mais sustentável.

Segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), são mais de 9 milhões de hectares de árvores plantadas no Brasil para fins comerciais, com destaque para eucaliptos e pinus, além de outras espécies, como teca e paricá. Enquanto estão em fase de crescimento até o momento da colheita, essas árvores estão capturando carbono da atmosfera. Juntas, elas absorvem 1,88 bilhão de toneladas de carbono (CO2eq³) por ano. Muitas áreas ocupadas pelo setor florestal foram restauradas e/ou transformadas em áreas de conservação. Hoje são cerca de 5,9 milhões de hectares de áreas de florestas nativas conservadas. Assim, para cada 1 hectare de florestas plantadas para fins comerciais, conserva-se aproximadamente 0,7 hectare de área nativa – e tudo isso sob uma política de zero desmatamento. Só colhemos o que plantamos!

As árvores, e por conseguinte sua biomassa, são fontes para inúmeras biossoluções que podem contribuir para a criação de alternativas mais sustentáveis para produtos que hoje utilizam, por exemplo, matéria-prima de fonte fóssil. Precisamos que as alternativas advindas dessa fonte renovável ganhem cada vez mais espaço no mercado, indo muito além da celulose e do papel, amplamente conhecidos. É o BIO que está por trás dos produtos. Já conhecemos várias dessas soluções e outras estamos ainda desvendando por meio de parcerias e colaborações com universidades, clientes, startups e centros de pesquisa.

Falando especificamente do eucalipto, seu plantio comercial no Brasil teve início no final da década de 1950 e início de 1960, ou seja. O clima brasileiro se mostrou apropriado para o cultivo em escala. Hoje, temos um ciclo florestal de cerca de sete anos, entre o plantio e a colheita da madeira, muito diferentes dos 30, 40 ou 50 anos de ciclo de colheita da madeira de outras espécies cultivadas no hemisfério norte. Isso traz para o setor e o Brasil um diferencial competitivo enorme.

Os plantios de eucalipto precisam de escala para entregar o BIO necessário para atender à demanda do mercado, fortalecer a Bioeconomia e as novas tendências de consumo. Essa escalabilidade exige muita estratégia, conhecimento tecnológico, planejamento e ação sistêmica entre várias áreas do negócio, da operação ao desenvolvimento social, do RH ao meio ambiente florestal.

Outro ponto de destaque do setor florestal são os benefícios sociais das operações, como investimentos em programas socioambientais que totalizam R$ 828 milhões ao ano e o apoio a mais de 1,6 milhão de pessoas beneficiadas por programas de fomento, que é o compartilhamento de tecnologias das empresas para pequenos e médios produtores rurais, que participam da cadeira de fornecimento de madeira.

Como líder do setor e ciente da sua responsabilidade em fomentar a Bioeconomia, a Suzano aplica em todos os seus produtos, processos e novos desenvolvimentos, o conceito da inovabilidade, que é a inovação integrada à sustentabilidade. Esse conceito foi materializado também nas 15 metas de longo prazo, que chamamos de Compromissos para Renovar a Vida, até 2030. Entre eles, destacamos:

  • Conectar, por meio de corredores ecológicos, 500 mil hectares de fragmentos de Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia;
  • Disponibilizar 10 milhões de toneladas de produtos de origem renovável, que possam substituir plástico e outros derivados do petróleo;
  • Tirar 200 mil pessoas da linha de pobreza nas nossas áreas de atuação.

Tendo como ponto de partida o BIO, que é a matéria-prima de base renovável, não conseguimos entender a Bioeconomia de forma desvinculada do que foi apresentado acima. Ao mesmo tempo, também precisamos reconhecer que qualquer operação em larga escala gera impactos que devem ser discutidos por meio de um diálogo transparente e constante com a sociedade. Somente assim o nosso setor continuará evoluindo, como tem ocorrido há décadas.

¹Fernando Bertolucci é diretor de Tecnologia e Inovação da Suzano.

²César Bonine é gerente executivo de Propriedade Intelectual e Gestão da Inovação da Suzano.

³Medida métrica utilizada para comparar as emissões dos vários gases de efeito estufa, baseada no potencial de aquecimento global de cada um.