Por Mateus Lopes, vice-presidente do Conselho Diretor da ABBI e diretor de transição energética da Raízen
O robusto acúmulo de conhecimento gerado na academia, no campo e na agroindústria ao longo das últimas décadas não deixa dúvidas sobre o potencial da bioeconomia como modelo de produção industrial capaz de gerar um impacto de descarbonização e desenvolver o Brasil do ponto de vista econômico.
Mas, como conectar os diferentes setores que podem se beneficiar dessa mudança? Incluem-se aqui a agricultura e a indústria, agendas que até o momento endereçam as seguranças alimentar e energética de forma independente. No entanto, é fundamental que nos atentemos ao cruzamento dessas macrotendências globais para uma proposta de crescimento sustentável do país.
A resposta está no amplo trabalho de grupos multidisciplinares que possuem uma visão sistêmica e totalmente fundamentada na bioinovação. Um grande exemplo desse esforço é o próprio estudo que escrevemos a várias mãos sobre esta temática, com a grande contribuição de pesquisadores da Embrapa Agroenergia, LNBR/CNPEM, Senai/CETIQT e Laboratório Cenergia/UFRJ.
Pela primeira vez, foi construído um cenário para a bioeconomia em que se combina tecnologias como etanol celulósico, biogás, proteínas alternativas, carbono orgânico no solo, amônia verde, bioquímicos e hidrogênio. Com ele, passamos a compreender que, quando aplicadas de formas sinérgicas, a intensificação sustentável da agricultura e a conversão de biomassa para produtos de maior valor agregado podem garantir a plena oferta de alimentos e a segurança energética em nosso país.
Os números solidificam tal argumento: com o avanço da bioeconomia como complemento para a transição energética, o Brasil pode gerar faturamento industrial adicional de cerca de US$ 400 bilhões/ano e reduzir as emissões em cerca de 550 milhões de toneladas de CO2eq, alcançando emissões negativas em 2050.
A integração de diferentes indústrias, portanto, é um vetor de descarbonização, como bem demonstra a experiência da Raízen, que produz químicos a partir do etanol e hidrogênio de segunda geração, gerando maior valor agregado e de baixo carbono.
A partir dessa mirada estratégica, passamos também de exportadores de commodities a fornecedores de soluções especializadas, como plásticos biodegradáveis, biopolímeros, biopesticidas, pigmentos, alimentos funcionais e biofortificados até medicamentos, fragrâncias e cosméticos.
O investimento nas cadeias produtivas orientadas pela inovação engloba um ciclo bastante virtuoso de benefícios diretos à sociedade. Nossa agricultura torna-se mais valorizada, mais empregos são gerados, o país se reindustrializa e, por extensão, o desenvolvimento de capital humano é consolidado.
As oportunidades viabilizadas pela bioeconomia estão postas. Para atingi-las, entretanto, cabe a criação de políticas de industrialização para potência verde e de um ambiente regulatório focado na otimização de cadeias de valores. É hora de investir na bioinovação e transformar o Brasil em um líder global em bioeconomia e descarbonização.