Amazônia 4.0, um potencial infinito

É hora de unir Indústria 4.0, ciência, economia circular, tecnologia e inovação, natureza, biodiversidade, cultura, comunidades, ancestralidades, tradição. Sem pontos finais, com todos na mesma frase, escrevendo uma só história: Amazônia 4.0.

As questões climáticas chegaram a uma situação de crítica indicando que não podemos mais continuar do ponto em que estamos. Um dos fatores de evidência é o aquecimento do planeta, de 0,8 graus Celsius no mundo e de 1,5 graus Celsius no Brasil, em média. Mais que isso, cerca de 50% da floresta amazônica pode virar savana se o desmatamento atingir de 20 a 25% da floresta, o chamado ponto de não retorno. Uma mudança que ocorre por uma quebra dos ciclos naturais: o ciclo da chuva e o ciclo de regeneração da floresta.

Caso isso ocorra, outro ciclo hidrológico muito importante deixa de existir – os rios voadores. Aquela umidade do oceano que atravessa a floresta, bate nos Andes e desce, transportando essa corrente de vapor de água para as regiões Centro-Oeste e Sudeste e fazendo chover nas áreas onde há maior produção agrícola no Brasil, o que pode representar sérios problemas ambientais com um efeito econômico desastroso.

O próprio Fórum Econômico Mundial, que reúne as principais lideranças do capitalismo, já manifestou que o desmatamento contínuo e a degradação do ecossistema representam grandes ameaças econômicas, culturais e ambientais para a região Amazônica e para o planeta.

Mas é possível um modelo de desenvolvimento econômico com desmatamento zero na Amazônia? Como alcançar a chamada Amazônia 4.0? Com o surgimento de uma bioindústria poderosa capaz de transformar commodities em produtos de alto valor agregado. E de que maneira podemos conciliar conservação com desenvolvimento econômico?

As premissas básicas são: inovação de processos e tecnologias da 4ª revolução industrial, conservação ambiental, valorização da cultura local e conhecimento ancestral. Para fim de exemplo, o cacau como commodities é vendido por R$ 15 reais o quilo, mas quando transformado em chocolate pode alcançar R$ 300 reais a mesma quantidade. São 2000% de agregação de valor. Uma transformação feita com base na inovação, que possibilita processos complexos acontecerem nas condições improváveis do interior da Amazônia.

A floresta é cheia de segredos que hoje a nossa tecnologia consegue revelar. Há centenas de plantas amazônicas com usos bastante conhecidos e todos os anos são descobertas novas espécies, que podem ser usadas para fins fitoterápicos, farmacêuticos, cosméticos, alimentares, nutracêuticos e tantos outros. Sem falar dos fungos.

Em 2018, pesquisadores brasileiros fizeram um sequenciamento genômico de um fungo amazônico. Por meio da Bioinovação, uma enzima colocada no processo de fabricação de etanol de segunda geração pode elevar o potencial de incremento do produto em 50%. Isso por si só já é uma revolução econômica.

A natureza como um todo é a maior fonte de tecnologia. Podemos considerá-la uma mina de informação que traduzimos para nossa tecnologia – a tecnologia humana. O país não pode perder a chance de a floresta continuar existindo para prover isso tudo e enriquecer a nação, e não ser apenas, ou sobretudo, um fornecedor de commodities, porque as commodities têm o menor preço na cadeia de valor.

O Brasil e outros países da Amazônia podem liderar, mundialmente, a implementação de uma bioeconomia a partir de uma incomparável sociobiodiversidade. Esse novo paradigma tem a bioeconomia inovadora como proposta para produtos de extrativismo e sistemas agroflorestais (SAFs) que mantêm ou regeneram a floresta. Também considera as comunidades locais como protagonistas. O modelo ainda envolve uma cadeia de serviços: logística, fabricação de equipamentos, tecnologias e distribuição.

O mapa do IBGE mostra 4.438 localidades na Amazônia brasileira. Qualquer uma delas, por menor que seja, pode ser um local de agregação de valor ao ter uma Biofábrica 4.0 instalada. Gerando emprego local, inclusão social e preservação, transformando a riqueza biológica e cultural em riqueza econômica. A ideia é bem simples: fazer com que as forças da economia trabalhem pela conservação do bioma. Visto que a aptidão da Amazônia é permanecer floresta.

¹Ismael Nobre é Diretor Científico e Executivo do Amazônia 4.0.